• À conquista da Ginja da mãe do Vítor!!
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sexta-feira, 15 de junho de 2012

A volta do Cervus Elaphus



Quinta-feira, 10:30 Horas, Centro de BTT de Ferraria de S. João, Filipe, Mário, Vítor, KTM, Specialized Stumpjumper, Focus, Ford Fiesta, Garmin Dakota 20.
Estavam enfim reunidas as condições para iniciar a VOLTA que estava a ser desenhada há várias semanas. Feito o reconhecimento ao local onde ia-mos passar as próximas duas noites, despimos os fatos de gala e enfiamo-nos naqueles equipamentos sexies com que habitualmente desfilamos por montes e vales na companhia das nossas bikes.
O track tinha sido previamente carregado no nosso novo amigo, o Zé Dakota – da família dos Garmin – e assim podíamos finalmente iniciar a nossa jornada. Com o Mário à frente a comandar as hostes montamos as máquinas e avançamos por ali fora cheios de esperança e com a alegria a inundar-nos o coração – e com alguma tristeza por ser o último ano em que podíamos comemorar o feriado.
Como não podia deixar de ser a volta começou logo a subir. Durante algumas centenas de metros subimos até ao ponto mais alto da Ferraria e deparamo-nos com um single-track em pedra que faz chorar de inveja muitos dos que encontramos na nossa zona. Aqui já tínhamos mudado o comando do pelotão passando o Vítor a assumir a liderança, não porque estivesse a andar mais, apenas porque o Mário não se entendia com o Zé Dakota e ficou para trás.
Cautelosamente, como é seu timbre, o líder do pelotão avançava pelo trilho fora acompanhando o ritmo da sua bike que levava a seu lado. O Filipe seguia na segunda posição e deixava, tal como o Vítor, que fosse a máquina a marcar o ritmo.
Depois de andarmos cerca de 2 Kms chegamos a uma descida cravejada de pedras e descemo-la aguardando o Mário, que entretanto se aproximava a toda a velocidade como se circulasse numa ciclovia alcatroada. Por razões ainda desconhecidas – e a serem futuramente apuradas em comissão de inquérito a constituir – iniciou a descida como só ele sabe fazer, passando por cima da bicicleta num salto mortal digno de nota 10 e estatelou-se no chão de pedras com a sua amada KTM em cima dele.
A registar: feridas com várias dimensões nos braços e mãos e ainda alguns hematomas numa das pernas provocando fortes dores musculares. Para lavar as feridas utilizamos a água que levávamos no bidon e que aparentemente, a julgar pelos gritos de dor, era aguardente vinícola.
Feito o tratamento possível reiniciamos a marcha seguindo o percurso no GPS. Espantosamente ou não, fomos ter novamente ao ponto onde tínhamos iniciado o circuito.
Bem, definitivamente a volta não estava a correr como tínhamos previsto. Decidimos então fazer um circuito mais pequeno. Após várias tentativas para gravar o percurso e depois de termos sido ajudados por um habitante local, verificamos que o Zé Dakota renomeava o track – esquisitices tecnológicas.
Com tudo isto estava na hora do almoço, pelo que decidimos descer por estrada até ao Casal de São Simão, cerca de 10 Kms, local onde existe um restaurante bastante agradável. Aí chegados fomos surpreendidos com alguma má vontade inicial do proprietário em receber-nos. Esclarecidos alguns pontos prévios, fomos muito bem servidos e ainda nos ofereceram a caixa de primeiros socorros para tratarmos as feridas do Mário.
Depois de almoço descemos às Fragas de São Simão pelo percurso pedestre com as bikes às costas. Subimos ao miradouro, que tem uma vista fantástica e iniciamos o regresso à Ferraria São João. Subimos aqueles terríveis 10 Kms quase sempre por estrada.
Chegados à Ferraria fomos fazer o check-in na Casa do Zé Sapateiro. Sem querer fazer publicidade o local é fantástico e fomos recebidos como amigos da casa. Cinco estrelas e a repetir. A noite acabou num restaurante em Avelar sem nada de relevante.
Sexta-feira, 8:30 horas. Depois de uma noite bem dormida e de um pequeno-almoço simples mas muito bem servido, preparámo-nos para a etapa rainha do centro de BTT da Ferraria de São João, circuito nº 15 com 75 Kms.
Track carregado, e desta vez bem, iniciamos a volta. Mais uma vez e durante os primeiros 15 Kms este percurso é sempre a subir. Passámos por sítios absolutamente fantásticos, visitamos o miradouro de São João do Deserto e deslumbramo-nos com a vista, percorremos trilhos nas montanhas com vistas fabulosos. Deparamo-nos com um Cervus elaphus vulgarmente conhecido por veado e admiramos a destreza com que um bicho daquela envergadura sobe por cima de rochas e fura entre os arbustos.
O pior estava para acontecer. Nas imediações da aldeia de Gondramaz, com cerca de 20 Kms feitos, o trilho que deveríamos utilizar estava coberto de árvores cortadas impedindo-nos a passagem. Fomos à procura do track por estrada. O Mário que levava o GPS foi à frente, e eu e o Filipe fomos a procura das placas que marcam o trilho.
Como não encontramos nada resolvemos descer por estrada. Esta, cortada no monte, tinha do lado direito de quem desce uma altura de 1,5 mts a 2 mts e do lado esquerdo uma ravina com algumas dezenas de metros, mas felizmente cheia de árvores e arbustos.
Quando ia-mos a descer, eu na frente e o Filipe um ou dois metros atrás, vi do meu lado direito um veado a descer em grande velocidade pela encosta abaixo e a preparar-se para saltar para a estrada. Recordo apenas que comecei a gritar e quase instantaneamente senti o bicho a cair atrás de mim e a arrastar o Filipe para fora da estrada. Digo-vos, a imagem é absolutamente inesquecível e aterradora. Um animal que kms atrás tínhamos admirado, tinha agora provocado um acidente de consequências ainda imprevisíveis.
O Mário entretanto tinha voltado para trás e assistiu ao acidente. Naqueles segundos parei a bicicleta e com o Mário começamos a correr para o local. As pernas empurravam-nos para a frente mas ia-mos completamente aterrorizados com o que iriamos encontrar. Entretanto vimos o Filipe a tentar içar-se – tinha conseguido segurar-se a um arbusto – e vimo-lo logo com sangue em vários locais. Ajudamo-lo a subir e deitamo-lo junto à estrada. Verificamos que tinha várias escoriações e um golpe enorme numa das pernas, feito pelo prato pedaleiro (aferimos depois). Tinha ainda o capacete partido e um enorme hematoma na cabeça.
 
Chamamos o 112, que não demorou muito, entretanto apareceram no local um dos lenhadores que tínhamos encontrado no início da descida e que nos deu referências do local onde nos encontrávamos e um construtor civil local, Sr. Conde, que se prontificou a levar e a guardar a bicicleta do Filipe.
 
 A história acabou no HUC, onde fomos buscar o Filipe após termos feito o caminho de regresso ao local onde estávamos hospedados para ir buscar o carro. Nessa noite ainda dormimos na Ferraria e no dia seguinte fomos ter com a família que estava na Pampilhosa da Serra e onde ficamos mais uma noite. O Filipe passou o resto do fim-de-semana a andar de muletas e com algumas dores. As bicicletas fartaram-se de andar nos suportes do carro e estão de castigo em casa.
 
Viemos depois a saber que nesta zona têm acontecido vários acidentes com veados embora não seja conhecido nenhum com bicicleta. Aparentemente os veados foram introduzidos pela Universidade de Aveiro à cerca de 20 anos e neste momento perderam totalmente o controlo sobre o nº de bichos à solta pelos montes.
 
O local merece ser visitado, mas caros colegas, se forem fazer BTT tenham muito cuidado e especialmente junto às estradas de alcatrão circulem com atenção, porque estes animais são inofensivos para os humanos, mas assustam-se com facilidade e levam tudo à frente.
Texto: Vítor Jesus