"Team Amarante Bike Zone ONBIKE
Nipita to Whiteswan
Distância: 107 km
Acumulado de Subidas: 1890m
Acumulado de Descidas: 1921m
Classificação: 2º - ::s
Hoje o passeio pelo quintal foram ‘’apenas’’ 107km para os 1890m de acumulado. Noutros locais isto aparentava ser uma etapa rolante, sem grandes preocupações. No Canadá a escala de dureza é outra, aqui até podem ser só 15km uma etapa mas podemos demorar 3h para os fazer. Nós não fazíamos a mais pequena ideia, tínhamos lido relatos, concelhos de amigos mas fazer isto é qualquer coisa de brutal, para homens (e mulheres) e máquinas. Nunca em Portugal fomos brindados com a dureza que aqui enfrentamos, por vezes a nossa vida corre mesmo risco e não estou a exagerar.
Querem saber mais, ninguém se queixa, ninguém diz que tiveram de carregar com as bikes durante kms, que gelaram os pés a passar o rio (a água aqui é mesmo gelada!!!), que tiveram de fazer trilhos com precipícios dos dois lados da roda, que a bike ficou enterrada na lama, até me esqueço do que já tivemos de ultrapassar!! Querem saber ainda mais?? Estamos a adorar cada segundo, vivemos a dureza, adoramos os trilhos, respiramos liberdade e distribuímos boa disposição indiscriminadamente.
Pois, a etapa…
O posicionamento inicial é muito importante porque aparecem singletracks de um momento para o outro e se não estivermos no grupo da frente, perde-se segundos preciosos. Os primeiros kms alternaram entre estradas florestais e trilhos ‘’hand made’’ na floresta.
Depressa se formou o grupo ‘’ do costume’’ – Team Amarante Bike Zone ONBIKE, Rocky Mountain Bicycles, e os Checos que ainda não bem o nome da equipa deles porque não são da nossa categoria. Uma coisa pouco normal nesta prova, estradões, e parecia que estávamos na primeira etapa…rolar a 50km\h em terreno ondulado e ainda a conversar….
O staff do primeiro abastecimento ficou de boca aberta porque além de sermos muito rápidos a lá chegar, nem sequer parámos!
Depois a história conta-se acerca do Zé, da bike e das pernas. Primeiro o travão traseiro começou a travá-lo. Tivemos que parar para ver o que é que se passava, (tentar) dar um jeito à coisa mas sem grande sucesso. Depois foram as velocidades que começaram as saltar e que não deixavam pedalar. Para acrescentar mais uma pitada, foram as pernas dele que começaram a não querer colaborar.
Nestas provas por equipa se um elemento está menos bem, o outro têm o dever de se manter com ele, incentivar, falar e empurrar se for necessário. Não adianta ‘’seguir viagem’’, é pensar sempre no ´´nós’’ em vez do ‘’eu’’. A dura subida do Bear Creek foi feita em sofrimento, só nos restava esperar que acabasse rápido.
As paisagens eram arrepiantes, pedalávamos pelo meio de cordilheira com imponentes picos rochosos e como ruído de fundo tínhamos o correr da água vinda da neve que derretia no topo das montanhas (e as velocidades que de vez enquanto saltavam J)
Antes mesmo de chegar ao topo, ainda fomos obrigados a desmontar durante umas centenas de metros, mas isto já nem merece muitos comentários, é ‘’tão natural como a sua sede’’.
Supostamente os restantes 55km após o final da subida, seriam sempre a descer. Até chegar ao 3º abastecimento, onde os sempre alegres Bazileiros estavam, foram a descer. Mas daí até à meta faltavam 30km, para se fazer numa estrada larga de terra batida, aliás, lama batida e com vento contra. Estamos entregues à nossa sorte, não havia nenhuma equipa para trabalhar em conjunto de forma a podermos descansar um pouco. O Zé estando mal, isto significa que não há descanso para mim e ‘’transportei-o’’ até à meta a morder a língua.
Quando estive na Costa Rica consegui ver uns crocodilos (não é Aldo?? aliás, Holandês Voador J ), depois nos Alpes não tivemos a sorte, assim como em África do Sul com a observação de vida selvagem em directo. Ursos, estávamos no terreno deles e queríamos mesmo ver pelo menos um. Três, vimos três Grisley, a mãe e três filhotes a atravessar a estrada à nossa frente e felizmente a correr para o bosque.
Estávamos numa ‘’Endless road’’, os kms passavam e nunca mais chegava a meta, não havia descanso porque certamente quem viesse na nossa perseguição vinha em grupo e estava a ganhar tempo.
Nos últimos 3km e quando a estrada serpenteou a serra e deu para ‘’controlar’’ quem nos perseguia, vimos 3equipas a dar tudo para nos apanhar. Não podíamos morrer na praia, há que dar tudo também, tínhamos de garantir a 2ª posição na etapa.
Quando cortamos a meta em Whiteswan, quase se foi ao sprint, mas garantimos o lugar. Na cara do Zé estava estampado sofrimento, mais tarde confessou-me que lhe vieram as lágrimas aos olhos de tantas dores…valeu a pena amigo!!!
Apesar de estarmos cansados não havia tempo para grande descanso. Comemos uma frutinha na chegada, fomos logo de seguida lavar as bikes, aproveitamos para lavar logo as sapatilhas porque iam ser necessárias no dia seguinte. Depois há que levar os sacos para a tenda (pesados que se fartam), beber o recuperador, tomar banho e descansar 5min. Depois lavar a roupa e procurar um sitio para a estender. Neste campo havia muitas soluções, desde estar no chão até pendurada nas árvores ou até mesmo nem a lavar e usa-la amanhã! O cansaço é tanto que esta solução compreende-se. Optamos por a colocar no estendal montado pelo Crazy Lary (vejam a foto), felizmente que deu uns raios de sol ao final do dia porque durante a quase toda a etapa foi sempre a chover. Entretanto o Zé foi descansar, porque não aguentava das pernas enquanto eu limpei, lubrifiquei e afinei as duas bikes. No final disto as pernas até tremiam de tanto estar de pé.
Ainda consegui arranjar uns minutos para a bicicleta do João César que também precisou de uma ‘’atenção’’. Ele merecia, o Team Arruda estava de parabéns, tinham terminado em 5º na categoria de 80+ (soma das idades dar mais de 80 anos). Como se diz por cá…So far so good…Parabéns AMIGOS!
A caravana parou no meio do nada, numa clareira com uma vista privilegiada para o Gordan Peak e para o magistral Lago do Cisne Branco (Whiteswan). Que lugar mágico e belo!
Em provas deste calibre exige uma redobrada (aliás triplicada) atenção na escolha de roupa. Há quem opte por levar 7 mudas de roupa para ter sempre uma preparada todos os dias. A lista vai desde os tradicionais calções e Jersey aos manguitos, pernitos, impermeável, casaco térmico, calças…tudo o que possam imaginar aqui poderá ser necessário. Nisto o precioso apoio da ONDABIKE foi essencial para enfrentarmos a dureza da prova e espalharmos a impressão de Pro Riders. Infelizmente não o somos, mas frequentemente temos que dizer isso quer atletas quer aos espectadores e staff. NÃO SOMOS PRÓS, MAS ANDAMOS COMO TAL J (Como dizem o pessoal da RMB)
A etapa de amanhã levamos de Whiteswan a Elkford num total de 87.5km e 2254m de acumulado de subidas. Elkford -"Wilderness capital of British Columbia", fundada por mineiros que exploravam (e exploram) o carvão. Finalmente vamos ver civilização, upiiiiii J
PS: Estou a escrever este relato de ontem quando já terminei a etapa de hoje. Vocês preparem-se porque vem aí coisas bombásticas!"
Nipita to Whiteswan
Distância: 107 km
Acumulado de Subidas: 1890m
Acumulado de Descidas: 1921m
Classificação: 2º - ::s
Hoje o passeio pelo quintal foram ‘’apenas’’ 107km para os 1890m de acumulado. Noutros locais isto aparentava ser uma etapa rolante, sem grandes preocupações. No Canadá a escala de dureza é outra, aqui até podem ser só 15km uma etapa mas podemos demorar 3h para os fazer. Nós não fazíamos a mais pequena ideia, tínhamos lido relatos, concelhos de amigos mas fazer isto é qualquer coisa de brutal, para homens (e mulheres) e máquinas. Nunca em Portugal fomos brindados com a dureza que aqui enfrentamos, por vezes a nossa vida corre mesmo risco e não estou a exagerar.
Querem saber mais, ninguém se queixa, ninguém diz que tiveram de carregar com as bikes durante kms, que gelaram os pés a passar o rio (a água aqui é mesmo gelada!!!), que tiveram de fazer trilhos com precipícios dos dois lados da roda, que a bike ficou enterrada na lama, até me esqueço do que já tivemos de ultrapassar!! Querem saber ainda mais?? Estamos a adorar cada segundo, vivemos a dureza, adoramos os trilhos, respiramos liberdade e distribuímos boa disposição indiscriminadamente.
Pois, a etapa…
O posicionamento inicial é muito importante porque aparecem singletracks de um momento para o outro e se não estivermos no grupo da frente, perde-se segundos preciosos. Os primeiros kms alternaram entre estradas florestais e trilhos ‘’hand made’’ na floresta.
Depressa se formou o grupo ‘’ do costume’’ – Team Amarante Bike Zone ONBIKE, Rocky Mountain Bicycles, e os Checos que ainda não bem o nome da equipa deles porque não são da nossa categoria. Uma coisa pouco normal nesta prova, estradões, e parecia que estávamos na primeira etapa…rolar a 50km\h em terreno ondulado e ainda a conversar….
O staff do primeiro abastecimento ficou de boca aberta porque além de sermos muito rápidos a lá chegar, nem sequer parámos!
Depois a história conta-se acerca do Zé, da bike e das pernas. Primeiro o travão traseiro começou a travá-lo. Tivemos que parar para ver o que é que se passava, (tentar) dar um jeito à coisa mas sem grande sucesso. Depois foram as velocidades que começaram as saltar e que não deixavam pedalar. Para acrescentar mais uma pitada, foram as pernas dele que começaram a não querer colaborar.
Nestas provas por equipa se um elemento está menos bem, o outro têm o dever de se manter com ele, incentivar, falar e empurrar se for necessário. Não adianta ‘’seguir viagem’’, é pensar sempre no ´´nós’’ em vez do ‘’eu’’. A dura subida do Bear Creek foi feita em sofrimento, só nos restava esperar que acabasse rápido.
As paisagens eram arrepiantes, pedalávamos pelo meio de cordilheira com imponentes picos rochosos e como ruído de fundo tínhamos o correr da água vinda da neve que derretia no topo das montanhas (e as velocidades que de vez enquanto saltavam J)
Antes mesmo de chegar ao topo, ainda fomos obrigados a desmontar durante umas centenas de metros, mas isto já nem merece muitos comentários, é ‘’tão natural como a sua sede’’.
Supostamente os restantes 55km após o final da subida, seriam sempre a descer. Até chegar ao 3º abastecimento, onde os sempre alegres Bazileiros estavam, foram a descer. Mas daí até à meta faltavam 30km, para se fazer numa estrada larga de terra batida, aliás, lama batida e com vento contra. Estamos entregues à nossa sorte, não havia nenhuma equipa para trabalhar em conjunto de forma a podermos descansar um pouco. O Zé estando mal, isto significa que não há descanso para mim e ‘’transportei-o’’ até à meta a morder a língua.
Quando estive na Costa Rica consegui ver uns crocodilos (não é Aldo?? aliás, Holandês Voador J ), depois nos Alpes não tivemos a sorte, assim como em África do Sul com a observação de vida selvagem em directo. Ursos, estávamos no terreno deles e queríamos mesmo ver pelo menos um. Três, vimos três Grisley, a mãe e três filhotes a atravessar a estrada à nossa frente e felizmente a correr para o bosque.
Estávamos numa ‘’Endless road’’, os kms passavam e nunca mais chegava a meta, não havia descanso porque certamente quem viesse na nossa perseguição vinha em grupo e estava a ganhar tempo.
Nos últimos 3km e quando a estrada serpenteou a serra e deu para ‘’controlar’’ quem nos perseguia, vimos 3equipas a dar tudo para nos apanhar. Não podíamos morrer na praia, há que dar tudo também, tínhamos de garantir a 2ª posição na etapa.
Quando cortamos a meta em Whiteswan, quase se foi ao sprint, mas garantimos o lugar. Na cara do Zé estava estampado sofrimento, mais tarde confessou-me que lhe vieram as lágrimas aos olhos de tantas dores…valeu a pena amigo!!!
Apesar de estarmos cansados não havia tempo para grande descanso. Comemos uma frutinha na chegada, fomos logo de seguida lavar as bikes, aproveitamos para lavar logo as sapatilhas porque iam ser necessárias no dia seguinte. Depois há que levar os sacos para a tenda (pesados que se fartam), beber o recuperador, tomar banho e descansar 5min. Depois lavar a roupa e procurar um sitio para a estender. Neste campo havia muitas soluções, desde estar no chão até pendurada nas árvores ou até mesmo nem a lavar e usa-la amanhã! O cansaço é tanto que esta solução compreende-se. Optamos por a colocar no estendal montado pelo Crazy Lary (vejam a foto), felizmente que deu uns raios de sol ao final do dia porque durante a quase toda a etapa foi sempre a chover. Entretanto o Zé foi descansar, porque não aguentava das pernas enquanto eu limpei, lubrifiquei e afinei as duas bikes. No final disto as pernas até tremiam de tanto estar de pé.
Ainda consegui arranjar uns minutos para a bicicleta do João César que também precisou de uma ‘’atenção’’. Ele merecia, o Team Arruda estava de parabéns, tinham terminado em 5º na categoria de 80+ (soma das idades dar mais de 80 anos). Como se diz por cá…So far so good…Parabéns AMIGOS!
A caravana parou no meio do nada, numa clareira com uma vista privilegiada para o Gordan Peak e para o magistral Lago do Cisne Branco (Whiteswan). Que lugar mágico e belo!
Em provas deste calibre exige uma redobrada (aliás triplicada) atenção na escolha de roupa. Há quem opte por levar 7 mudas de roupa para ter sempre uma preparada todos os dias. A lista vai desde os tradicionais calções e Jersey aos manguitos, pernitos, impermeável, casaco térmico, calças…tudo o que possam imaginar aqui poderá ser necessário. Nisto o precioso apoio da ONDABIKE foi essencial para enfrentarmos a dureza da prova e espalharmos a impressão de Pro Riders. Infelizmente não o somos, mas frequentemente temos que dizer isso quer atletas quer aos espectadores e staff. NÃO SOMOS PRÓS, MAS ANDAMOS COMO TAL J (Como dizem o pessoal da RMB)
A etapa de amanhã levamos de Whiteswan a Elkford num total de 87.5km e 2254m de acumulado de subidas. Elkford -"Wilderness capital of British Columbia", fundada por mineiros que exploravam (e exploram) o carvão. Finalmente vamos ver civilização, upiiiiii J
PS: Estou a escrever este relato de ontem quando já terminei a etapa de hoje. Vocês preparem-se porque vem aí coisas bombásticas!"